Entre os BRICs, Brasil é o que mais deve penar com falta de “cérebros” até 2030

Cristiano Zaia – CorreioWeb  –  21/01/2011 11:00

Pesquisa encomendada pelo Fórum Econômico Mundial analisou o mercado de trabalho de 23 países de todos continentes. Uma das conclusões é que as nações precisam estimular a migração de talentos profissionais

Wanderlei Pozzembom CBDAPress
Trabalhador em mineradora de alumínio e bauxita. Segundo relatório do BCG, produção anual de commodities, como as minerais, terá altas constantes, de 3%

Nas próximas duas décadas, a demanda por trabalhadores na indústria de manufatura (tecnologia agregada) crescerá mais de 10% nos países emergentes e 4% em média num total de 23 nações como Estados Unidos, Suécia, Espanha, Índia, China, e até o Brasil. Principalmente nos subdesenvolvidos, sobretudo nos BRICs (grupo de países formado por Brasil, Rússia, Índia e China), há um vácuo de mão-de-obra especializada em todos os níveis produtivos, entre os quais transportes, comércio, mineração e comunicações devem sentir mais até 2030. Esses e demais apontamentos é o que mostra relatório realizado pela consultoria multinacional Boston Consulting Group (BCG), a pedido do Fórum Econômico Mundial, que também sugere sete medidas ( confira no quadro no fim da matéria ) em resposta a um problema mundial da escassez de talentos profissionais.

Intitulado “Risco de Escassez Global de Talentos-Sete Respostas”, o estudo conclui que, pelo cenário econômico internacional, países tidos de “primeiro mundo”, como Canadá, Alemanha, França e Japão, por exemplo, estão no vermelho num mapa que mede a tendência de escassez de “cérebros” profissionais no mundo. Isso quer dizer que, ao contrário, nações em desenvolvimento, entre elas México, África do Sul e os BRICs (com exceção da Rússia), com baixa ou nenhuma tendência de escassez e que vivem uma boa perspectiva de crescimento estável nos próximos anos, serão pólos de atração crescente de força de trabalho. Nesse sentido, o maior desafio é minimizar a falta de qualificação do mercado de trabalho nesses países emergentes.

O diretor de marketing do BCG, Christian Orglmeister, assegura que os BRICs estão se tornando o motor da economia mundial, já que as economias americana e europeia estão passando por desaquecimento e vêm recorrendo cada vez mais aos países subdesenvolvidos.

“Dos BRICs, o Brasil é o que tende a demorar mais a preencher a lacuna de mão-de-obra especializada. Isso, pois aqui os gargalos são muito grandes, como em educação e infraestrutura. A Índia já iniciou um processo de qualificação profissional e muitos trabalhadores chineses estão começando a serem repatriados para seu país. No Brasil nem existe uma quantidade considerável de trabalhadores no estrangeiro, quanto mais que possam voltar daqui a 20 anos.”

O relatório ainda prevê que, até 2030, entre 5% e 10% dos talentos dos BRICs estarão atuando em indústrias de mão-de-obra pesada. A produção anual de commodities como o minério de ferro, por exemplo, terá altas constantes, próximas de 3%. A razão está no forte consumo de recursos para impulsionar o crescimento da China e o aumento das exportações de Rússia e Brasil, segundo o levantamento.

Treinamento já!

Apenas em nosso país, há estimativas informais da iniciativa privada que apontam para um déficit de profissionais com algum tipo de especialização da ordem de 40% a 50%. Para o economista da Associação Comercial de São Paulo, Emílio Alfieri, o combate ao quadro de escassez de especialização no trabalho está nas mãos do setor privado. Ao invés de dispensar um candidato, ele defende que o empregador passe a promover mais o que ele chama de training on the job, que consiste em conciliar treinamento com o trabalho do funcionário iniciante.

“O governo está fazendo o papel dele com a expansão do ensino técnico, mas a iniciativa privada não pode fazer o que está fazendo. Ou a empresa contrata por um salário inicial menor e depois treina ou mescla trabalhadores jovens com mais experientes. A falta de mão-de-obra especializada é um problema bom.”

Já o gerente executivo de prospectiva do trabalho do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Luiz Caruso, considera que o problema do Brasil é a baixa qualidade de educação básica. Ele lembra que, segundo o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), do Ministério da Educação, nossos níveis de proficiência em português e matemática alcançaram um terço da meta proposta em cada série correspondente. ““Em 2020, conforme projeções do movimento “Todos pela Educação”, deveremos ter um nível de proficiência em disciplinas básicas equivalente ao da Espanha. Esse certamente é um gargalo que o Brasil vai enfrentar”.”

Caruso cita uma estimativa do Senai segundo a qual a indústria vai liderar um novo ciclo de crescimento econômico nos próximos 15 anos, devendo gerar, uma grande demanda de mão-de-obra mais qualificada. No entanto, a mesma entidade também prevê que, em 2024, mais de 50% do contingente de trabalhadores do setor industrial brasileiro tenha um perfil de baixa qualificação. Ele completa afirmando que é a China e não o Brasil o país que deve sofrer uma maior pressão por falta de profissionais especializados, uma vez que cerca de 800 milhões de chineses ainda trabalham no campo.

Sem motivo de preocupação
Ao contrário de muitos, o técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Roberto Gonzalez, a falta de especialização profissional não é uma preocupação tão latente assim no Brasil. Para ele, em se tratando de educação, mesmo que a longo prazo, o país está no rumo certo da expansão de recursos federais do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), da ampliação de escolas técnicas e da criação de um piso nacional para os professores.

““[Escassez de mão-de-obra especializada] não constitui um gargalo que vai impedir o crescimento econômico. É uma oportunidade aberta para o desenvolvimento, mas que implica investimentos em educação””, pondera ele, que faz questão de frisar que esse problema quando acontece, como agora no Brasil, não se restringe aos “cérebros” ou profissionais altamente especializados, mas também se estende a trabalhadores como eletricistas, porteiros, soldadores, etc.

Lista dos sete desafios de 23 países para o problema da falta de recursos humanos de qualidade
-Adotar planejamento estratégico de mão-de-obra focando o equilíbrio entre oferta e demanda de trabalhadores;
-Facilitar a migração para atrair os talentos certos;
– Promover a “circulação de cérebros” para amenizar a fuga deles;
– Aumentar a empregabilidade com alfabetização tecnológica e habilidades de aprendizado multiculturais;
– Desenvolver um intercâmbio de talentos por meio de rotas profissionais e educacionais;
– Incentivar a mobilidade temporária e virtual para que se tenha acesso fácil às habilidades necessárias;
– Ampliar esse plantel com a inclusão de mulheres, mais velhos, pessoas com necessidades especiais e imigrantes

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