* Artigo Originalmente publicado no Jornal GAZETA, em Abril/2017.

 

“Isto [espaço compartilhado] é para as pessoas interagirem

naturalmente em público; você não precisa colocar sinais

de tráfego em uma festa de aniversários, certo?”

 – Hans Monderman, especialista conhecido na gestão de tráfico e principal proponente do “Espaço Compartilhado”

 

Mais prédios, mais empresas, mais pessoas e… Mais carros! Tudo indica que o trânsito será ainda o grande mal para o bem estar da população. Seja numa pequena cidade, grandes centros ou bairros afastados, o tempo que temos levado para deslocamento tem aumentado a cada ano.

A primeira impressão que nos vem é que as soluções apresentadas estão sempre atrasadas. Constrói-se um viaduto, o fluxo de veículos é bem maior. Instala-se um sistema de ônibus rápido, a população usuária já é bem maior. Uma sensação da cobra comendo o próprio rabo.

Mobilidade é além de cuidar do trânsito. É compreender o fluxo das pessoas, a movimentação dos transportes necessários à cidade e a cima de tudo estudar formas para maximizar a qualidade de vida das pessoas nas cidades. A Engenharia de Mobilidade propõe estudos avançados e com uso de simulações, atendendo a demanda atual e futura. A cidade não foi feita para os carros, mas é preciso conviver com eles.

Enquanto o Arquiteto e Urbanista enxerga a cidade para pessoas, a Engenharia de Mobilidade propõe as vias ideais e seus modais (rodoviário, ferroviário, aéreo, portuário, cicloviário, etc) para o transporte de pessoas ou mercadorias. É preciso a integração de ambos para que não continuemos a errar, pensar apenas um lado da moeda.

Compartilhar o Espaço

O projeto do “Espaço Compartilhado” nasceu em 2004 e foi financiado em parte pela União Europeia, para ser implantado na Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Holanda e Inglaterra. A ideia parte do estudo das atividades humanas na localidade onde será implantado o projeto. Atravessar uma rua numa cidade movimentada pode levar um bom tempo, mesmo com sinalização. A proposta é não ter sinais nas vias públicas.

Compreender a movimentação das pessoas, cargas, ônibus escolares, bicicletas e assim propor uma saída mais racional. Dividir o espaço entre todos, como usufruir do espaço e não causar um transtorno entre um e outro. A diminuição da velocidade, mesmo com fluxo contínuo, favorece as comunicações rápidas, as expressões verbais, nas cidades europeias onde o modelo foi implantado houve uma ligeira queda nos acidentes.

Numa cidade holandesa, em Makkinga, temos o exemplo de como após a remoção da sinalização, em pouco tempo a população quase não percebia a mudança. O estudo da conexão das vias com o dia-a-dia da população possibilitou um trânsito melhor organizado, o respeito mútuo da população conta muito.

Proposições que melhoram o trânsito

Desenvolver outras vias alternativas, evitando a passagem por vias de gargalo. Muitas cidades têm um desenho radial, tudo passa pelo centro, anéis viários e avenidas de ligação poderiam ajudar com esta medida. Outro ponto é a reorganização do fluxo do trânsito em horários de pico. Aquela avenida com 2 vias indo e 2 voltando, em determinado momento seriam 1 via indo e 3 voltando.

Favorecer o uso de ônibus, restrições a estacionamentos e promover a bicicleta. Como muitos centros urbanos parecem verdadeiras montanhas russas, é preciso integrar e permitir se transportar a bicicleta nos coletivos urbanos e metrôs. O mesmo desafio seria para encorajar a caminhar. Como vivemos em um país tropical, períodos chuvosos são constantes, é preciso pensar melhor nesta proposta.

Promover o transporte público de qualidade e eficiente. A maioria das frotas de ônibus das capitais brasileiras são bem deficitárias. O metrô ainda não chega onde deveria ter presença massiva. Seria algo a se pensar com o esforço da iniciativa privada em parcerias com a entidade pública.

 Muito a ser feito

Além das mudanças nas cidades, o problema da mobilidade passa por uma análise cultural. Disciplina e senso de coletivismo funciona bem para asiáticos e europeus. Latinos em geral são mais arredios. O brasileiro demora a compreender que ao evitar fila dupla na frente de escolas ou shopping centers, colabora para desafogar toda uma cidade. Não é exagero, existem vias cruciais em todo centro urbano, como artérias no nosso corpo, entupiu ou diminuiu o fluxo, é problema na certa.

Com novas propostas de monitoramento do trânsito, até uso de inteligência artificial, o problema pelo menos tem sido diagnosticado. Em breve iremos ouvir nos rádios que o dia seguinte será intenso em determinado local da cidade. Seja isso causado por um evento da natureza, como uma chuva, ou por um show de rock. A integração causada quando usamos aplicativos que nos auxiliam a chegar mais rápido em casa será mais sensível a toda a cadeia.

Colaboraram com este artigo: Archdaily, Geography Notes

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