Friedman e os bordões

Enviado por luisnassif, sab, 18/11/2006 – 11:05

Por André Araújo

A celebrizada frase de Milton Friedman, “não há almoço grátis”, encanta os papagaios do monetarismo que em geral nem sabem a que se refere o bordão, uma espécie de marca registrada de Friedman, excelente marqueteiro.

Como frase solta é de uma banalidade única, também não há sapato grátis, automóvel grátis, etc. Mas o importante é a mensagem contida na frase e é por causa dela que os neoliberais a repetem como um mantra.

Significa que não se deve dar nada de graça aos pobres porque tudo tem custo e esse custo é suportado pelos contribuintes, no contexto americano bàsicamente as corporações e os ricos.

È mensagem política, não tem nada de economia contido nela, é puramente ideológica, como quase tudo que se refere ao legado de Friedman, é no geral a bandeira do Partido Republicano.

Traduzindo em política econômica, significa cortar gastos sociais, hospitais públicos, escola para o povão, não dar subsídios ao transporte público, tirar o Estado do vasto campo do amparo social, também uma grande questão nos Estados Unidos, onde hoje vivem 50 milhões de pobres.

É uma mensagem reacionária, de ultra direita, mesquinha, de egoísmo e falta de consciência do coletivo, uma espécie de Hino ao Superávit Primário.

Por isso ela é repetida à exaustão pelos economistas de mercado que a transformam em recomendações de corte de gastos de tudo aquilo que se refira a despesas sociais.

Felizmente a mensagem ideológica de Friedman já saiu da moda há considerável tempo, restando nichos de fanáticos, como o Departamento de Economia da PUC-Rio, a Escola de Pós Graduação em Economia da FGV, o IBMEC, o COPOM e os habitais baba ovos do jornalismo econômico de mercado.

Curiosamente o legado acadêmico de Friedman saiu da Universidade de Chicago e caminhou para outra catedral, a Carnegie Mellon University, de Pittsburgh, onde seu herdeiro intelectual, Allan Meltzer (e bem mais moderado do que o mestre em sua visão neoliberal) é professor.

Abstraindo o lado ideológico pelo qual Friedman é notòriamente conhecido, sua contribuição acadêmica é de primeira ordem, notadamente com a grande obra História Monetária dos Estados Unidos, escrita em colaboração com Anne Schwartz, outra grande economista. Os livros de Friedman para o público leigo foram em geral escritos em co-autoria com sua mulher Rose também economista.

O Globo do dia de sua morte traz matéria de capa onde aponta Friedman como o papa do neoliberalismo e o contraponto a Keynes. É apenas uma meia verdade.

O profeta do neoliberalismo, até por uma questão de cronologia, foi o austríaco Friedrich von Hayek, muito mais que um economista, um cientista político e filosofo com visão de mundo, contemporâneo de Keynes (o que Friedman não foi, Keynes morreu em 1946 quando Friedman ainda não era conhecido). Foi Hayek quem formulou os princípios modernos da economia de mercado, uma refundação do capitalismo histórico imaginado por Adam Smith, sendo seu livro O Caminho da Servidão, de 1944, considerada a bíblia do neoliberalismo.

Lembremos que Alan Greenspan foi o anti-Friedman por excelência, sua operação da política monetária em seu longo reinado de 14 anos no FED foi destituída de qualquer apego a dogmas ou cartilhas.

Nos EUA Friedman é respeitado, mas a beleza dos Estados Unidos é que lá não existe nada sagrado no campo das idéias, muito menos igrejinhas e patotas fechadas, os americanos não cultuam ícones, tudo é aberto e sujeito a critica permanente, traço da cultura americana que, ao que parece muitos economistas brasileiros lá formados não absorveram, vivendo de bordões, lições de casa e cartilhas mal assimiladas.

Atenção

Como três leitores comentaram “minhas” idéias, repito que, embora concorde com elas, o autor é André Araújo.

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