* Artigo Originalmente publicado no Jornal GAZETA, em Fevereiro/2017.

 

“ O índice de material reciclado no país é três vezes menor do que

a quantidade de lixo que produzimos. Antes de se preocupar

com o que fazer com tanto lixo, é melhor diminuir sua quantidade.

Uma das razões para esse aumento é que nosso poder aquisitivo

está maior e, com isso, aumentamos nosso consumo e nosso lixo.”

 – Fernanda Altoé Daltro, especialista em consumo consciente

 

Não é difícil perceber a quantidade de lixo que produzimos. Uma experiência bem simples é quando realizamos compras semanais ou mensais para nossa casa. A começar pelas sacolinhas de plástico, embalagens em geral, caixas, etc, antes de consumir é evidente a produção de mais de 1 kg de resíduos. Depois do uso dos produtos domésticos, mais materiais acabam sendo descartados.

Reutilizar e reaproveitar não é nada fácil. A indústria de refrigerantes  tentou por anos. Não teve sucesso, acabou cedendo a garrafa plástica do tipo PET, nossos rios e mares é que sofrem. A contaminação dos solos é enorme. A natureza não consegue processar por si só toneladas de elementos inertes e que irão demandar anos e anos para se decomporem.

Legislação Avançada

Apesar de termos promulgado a Lei 12.305, chamada Política de Resíduos Sólidos, isso somente ocorreu depois de mais de 20 anos de tramitação no Congresso Nacional. É um avanço do ponto de visto técnico, vem em boa hora e precisa ter incentivo, apoio e cobrança não só do Governo Federal mas do Estadual e principalmente do Municipal. Os lixões e bota-foras irregulares prejudicam as cidades e as micro-regiões onde estão inseridas.

Uma vez que o processo de produção pode ter sua eficiência aumentada significativamente, a prevenção e a precaução (princípios da Lei 12.305)) reflete a metodologia de não geração de resíduos e tem um grande impacto no melhor uso de matéria prima, energia e desenhos de produtos, características fundamentais do princípio chamado na Inglaterra de Cradle-to-cradle (berço-ao-berço) e hoje implementado em vários países do mundo.

Outro princípio importantíssimo estabelecido na Lei é a Responsabilidade Compartilhada, o que faz com que os geradores de resíduos também tenham responsabilidades na destinação. Uma consequência imediata da implementação desse princípio é a preocupação de grandes geradores em gerar a menor quantidade possível de resíduos, protegendo assim o meio ambiente e se forçando a ter mais eficiência em sua atividade econômica.

Soluções de Engenharia

Não adianta tratar o problema somente no final da cadeia, ou seja, nos aterros, lixões, depósitos e ferros-velhos. Além da consciência de lixo zero, a população e indústrias devem se preocupar em selecionar e separar, a chamada coleta seletiva. Seu recolhimento e transporte precisam conter incentivos e técnicas apropriadas para se aproveitar ao máximo a ajuda de todos.

Cidades no Japão fazem a seleção do lixo, separam o que será reciclado e o que lhes resta é incinerado. O processo não é simples e demanda custos na construção do processo como um todo, filtros, energia elétrica. A solução para o problema deve ser pensada a longo prazo. Uma contaminação por gases tóxicos pode causar imenso problema ambiental.

Muitos resíduos da construção e até mesmo plástico podem ser convertidos em novos produtos como telhas, tijolos, estradas. Pneus se transformam facilmente em quilômetros de asfalto ecológico. Máquinas e processos para este reaproveitamento já existem, é preciso quebrar barreiras e pensar a longo prazo, os investimentos iniciais não se pagam nos primeiros anos.

 Campeões mundiais

Hoje o Brasil é considerado o maior reciclador de alumínio. Tudo se deve a nossa capacidade de recolher e reciclar latinhas de alumínio, que são usadas para cervejas, refrigerantes, sucos e diversas bebidas. Este recorde tem uma razão: o alumínio tem alto valor de comercialização e sua recuperação é fácil.

Em contrapartida a tudo isso também somos campeões em imensos aterros sanitários, lixões, locais onde a pobreza e a mazela do ser humano encontra seu auge. As ações para findar esta ciclo vicioso não passa apenas pelas soluções de como recolher e destinar os resíduos, mas também em readequar com dignidade a vida de muitos seres humanos.

O Banco Mundial (com dados de 2014) estima que 4 milhões de pessoas trabalhem na América Latina nos lixões. É preciso converter essas pessoas de meros catadores a recuperadores, mas para tanto todo o ambiente e toda a cadeia precisam se organizar. A chegada de cooperativas de catadores é o primeiro passo. Elas têm surgido e incentivadas por ONGs conseguem mudar a vida de muita gente. Promovem treinamento e mostram como podem tirar uma vida melhor daquilo que inicialmente nem trabalho seria.

 

Colaboraram com este artigo: Portal do Resíduo, Governo Federal, Banco Mundial

Posts Relacionados

Deixe um comentário