* Artigo Originalmente publicado no Jornal GAZETA, em Fevereiro/2017.

 

“Devemos lidar rapidamente com a fusão do mundo

on-line e do mundo da produção industrial.

Na Alemanha, chamamos de Indústria 4.0.”

 – Angela Merkel, chanceler Alemã

 

Estudamos nos livros de história sobre a chamada Revolução Industrial. Ela nos é apresentada como a mais importante, e muitas vezes como a única. Não é bem assim que as coisas aconteceram, outros eventos importantes fizeram com que déssemos saltos de produtividade e tem muita coisa pela frente.

A Revolução Industrial, versão 1.0 de como conhecemos hoje as fábricas, veio em um momento crucial para a ruptura de paradigmas e métodos fabris. Ocorreu na Inglaterra, no final do século XVIII início do XIX, logo mais em outros países como França, Bélgica, Holanda, Rússia, Alemanha e Estados Unidos ingressaram nesse novo modelo de produção industrial. Essa revolução ficou caracterizada por duas importantes invenções que propunham uma reviravolta no setor produtivo e de transportes, a ciência descobriu a utilidade do carvão como meio de fonte de energia e a partir daí desenvolveram simultaneamente a máquina a vapor e a locomotiva. Ambos foram determinantes para dinamizar o transporte de matéria-prima, pessoas e distribuição de mercadorias, dando um novo panorama aos meios de se locomover e produzir.

A partir de 1870, uma nova onda tecnológica sedimentou a chamada Indústria 2.0. Constata-se o emprego da energia elétrica, o uso do Motor à explosão, os corantes sintéticos, a produção do aço e do alumínio em escala e a invenção do telégrafo estipularam a exploração de novos mercados e a aceleração do ritmo industrial. Vários estudiosos iniciaram pesquisas para a elaboração de teorias e máquinas capazes de reduzir os custos e o tempo de fabricação de produtos que pudessem ser consumidos em escalas cada vez maiores. Neste período também deu início ao Fordismo, termo criado por Henry Ford, em 1914 refere-se aos sistemas de produção em massa e gestão.

A década de 70, com toda sua efervescência na Cultura e Artes, trouxe consigo a Indústria 3.0. Foi um processo de inovação tecnológica marcado pelos avanços no campo da Informática, da Robótica, das Telecomunicações, dos Transportes, da Biotecnologia e química fina, além da Nanotecnologia. A Revolução Técnico-Científica e Informacional também é caracterizada por uma profunda alteração nos modos de produção adotados pelas grandes corporações no mundo. Antes, o modelo taylorista//fordista era predominante, caracterizado pela produção em massa das mercadorias. Atualmente, o que está em voga é o modelo Toyotista, em que a produção é flexibilizada de acordo com a demanda (just in time), o que exige uma melhor tecnologia e, obviamente, uma menor quantidade de trabalhadores, que devem ser cada vez mais capacitados para operar sistemas de produção cada vez mais complexos e sofisticados.

Conectividade

A massificação das telecomunicações, mais diretamente smartphones, acesso à Internet e a indústria da aplicativos, trouxe imensos reflexos para a indústria, que mais uma vez teve que se adaptar. Esta rede de dispositivos de acesso, pessoas e sistemas de informação está nos preparando para a “internet das coisas”, um tema já popular em discussão.

O aumento na interconectividade não somente afetará nossas vidas pessoais, a tecnologia da informação também levará mudanças permanentes para a indústria. A revolução cibernética conta com veículos autônomos dentro e fora das fábricas. Os especialistas concordam: a Indústria 4.0 se tornou realidade.

 

Características importantes

Big Data: Uma mina de ouro africana encontrou maneiras de capturar mais dados de seus sensores. Novos dados mostraram algumas flutuações insuspeitas nos níveis de oxigênio durante a lixiviação, um processo-chave. Fixando esse aumento de rendimento em 3,7 por cento, retorno de até US $ 20 milhões por ano.

Análise avançada: análise mais detalhada de processos pode melhorar drasticamente o desenvolvimento do produto. Um fabricante de automóveis usa dados de seu website (onde os clientes montam opções de carros) juntamente com dados de compra para identificar opcionais que os clientes estão dispostos a pagar a mais. Com esse conhecimento, ele reduziu as opções em um modelo para apenas 13.000 – três ordens de magnitude menor do que seu concorrente, que ofereceu 27.000.000. O tempo de desenvolvimento e os custos de produção caíram dramaticamente. A maioria das empresas pode melhorar a margem bruta em 30% em 24 meses.

Interfaces homem-máquina: A empresa de logística Knapp AG desenvolveu uma tecnologia de picking usando a realidade aumentada. Pickers (funcionários na linha de produção) usam um fone de ouvido que apresenta informações vitais em um visor, ajudando-os a localizar itens mais rápida e precisamente. E com ambas as mãos livres, eles podem construir paletes mais fortes e mais eficientes, com itens frágeis salvaguardados. Uma câmera integrada captura números de identificação de série e de lote para monitoramento de estoque em tempo real. As taxas de erro caíram 40%, entre muitos outros benefícios.

Transferência de digital para componentes físicos: a Local Motors constrói carros quase inteiramente com a impressão 3-D. Com um projeto crowdsourced  (financiamento coletivo). Eles podem construir um novo modelo a partir do zero em um ano, muito menos do que a média da indústria (que gasta 6 anos). Vauxhall e GM, entre outros, ainda dobram muito metal, mas também usam impressão em 3D e prototipagem rápida para minimizar seu tempo de mercado.

 Desafios pela frente

Nem todo local tem acesso à Internet. Por isso os gigantes Google e Facebook têm projetos audaciosos para cobrir o planeta com conexões wireless. Ainda há muito o que desenvolver e baratear soluções. Realizar estudos na empresa demanda tempo e tem altos custos, nem todo empresário tem fôlego para isso.

Uma coisa é certa, rapidamente estaremos prevendo novas formas de trabalho humano, a robótica é uma realidade e a inserção de padrões humanos em seus complexos algoritmos esbarra em preceitos éticos e morais.

 

Colaboraram com este artigo: Maicon Boettcher, BDI (German Industry)

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