Conheci o Ivair por causa do seu livro. Mesmo ele sendo de uma cidade  muito próxima à minha, foi a primeira vez que houvi falar de suas competências na Engenharia e das suas aventuras na maior agência de exploração espacial do mundo. Rapidamente me conectei a ele pelo Linkedin e quando fiquei sabendo do pouso de uma nova sonda em Marte, resolvi pedir a ele que respondesse algumas perguntas. Mesmo estando super a atarefado me respondeu de dentro do avião entre EUA e Brasil.

Mineiro de Moema, cidade a 190 km de Belo  Horizonte, Ivair Gontijo trabalha na NASA, um sonho de muita gente. Engenheiro de formação tem atuado em projetos importantes para a exploração no planeta vermelho. Marte fica mais próximo com suas pesquisas.

Aproveitei a ocasião do pouso da sonda Insight no dia 26 de novembro de 2018 para poder fazer uma entrevista com o Ivair. Veja como foi o bate-papo:

Ítalo: Qual a expectativa de resultados científicos sobre Marte e Sistema Solar esperado pelo projeto Insight?
Ivair: O objetivo da missão Insight será estudar o interior do planeta Marte. Isso nunca foi feito antes e o Insight carrega dois instrumentos projetados e construídos especificamente para isso. Um deles, um sismógrafo desenvolvido pela agência espacial francesa (CNES), vai estudar a estrutura interna do planeta, seu manto e seu núcleo. Este sismógrafo vai também tentar detectar terremotos em marte. Não sabemos se Marte tem movimentos de placas tectônicas e terremotos como o planeta terra. Então os resultados obtidos por Insight vão contribuir para entendermos melhor como os planetas rochosos (Mercúrio, Venus, Terra, Marte) se formaram. Este sismógrafo é tão sensível, que será também capaz de detectar meteoros caindo na superfície de Marte, porque colisões assim também geram pequenas ondas que se propagam pelo planeta inteiro.
Já o segundo instrumento foi desenvolvido pelos alemães e contém uma sonda que vai se enterrar no planeta e medir como calor é conduzido abaixo da superfície. Isso é muito importante para entendermos como o planeta evoluiu e perdeu calor com o passar do tempo.
Ítalo: Com relação aos últimos pousos (Pathfinder, Curiosity, etc) o que este projeto incorpora de inovação e tecnologia de exploração espacial?
Ivair: Insight é uma missão da classe “Discovery”, ou seja, é uma missão bem mais barata que a missão MSL que levou o veículo Curiosity para Marte, ou a próxima missão Mars 2020. O projeto usa a mesma tecnologia da missão Fênix, que foi para o polo norte de Marte em 2008, fazendo com que seja ainda mais barata. Por isso, o objetivo não é tanto demonstrar novas técnicas. Os grandes objetivos dessa missão são científicos.
Mesmo assim, haverá uma nova demonstração tecnológica com esse missão. Dois pequenos satélites (cubesats) vão se separar do módulo de pouso antes da entrada na atmosfera Marciana. Se tudo der certo, eles irão monitorar a descida pela atmosfera e o pouso em Marte do Insight. Quem sabe vamos ter fotos de alta resolução, tiradas de pouca distância, mostrando as várias fases da entrada, descida e pouso. Além disso uma quantidade enorme de dados serão coletados por eles durante a descida e retransmitidos para a terra, se tudo der certo.
Esquema do Mars2020 onde mostra a SuperCam
Ítalo: Sobre o projeto Mars2020, qual sua principal contribuição com o instrumento SuperCam ? Tem tecnologia brasileira envolvida?
Ivair: Existem alguns brasileiros trabalhando na missão Mars 2020, mas não sei dizer se há alguma agência brasileira envolvida, com tecnologia brasileira. No projeto Mars 2020 eu represento o instrumento SuperCam, que está sendo construído por uma colaboração internacional. Parte dele, que envolve ótica e lasers é construída na França, outra parte na Espanha, que contém minerais terrestres que serão usados como alvos de calibração em Marte. Espectrômetros e a comunicação com o computador do veículo estão sendo desenvolvidos em Los Alamos, no estado do Novo México, nos Estados Unidos.
Meu trabalho é cuidar de todas as interfaces entre o instrumento e o veículo. É minha responsabilidade garantir que haverá espaço para o instrumento no veículo, que a massa do instrumento não seja maior do que foi alocado para ele, que não haja interferências com outros instrumentos e outras partes do veículo, que o software do instrumento vai receber comandos do veículo, fazer medidas e retornar dados e uma infinidade de outros detalhes. Por isso eu represento os três grupos do instrumento quando converso com meus colegas que estão projetando e construindo o veículo, e vice-versa.
Ivair Gontijo – créditos: Revista Época
Ítalo: Para os garotos sonhadores de Moema, Bom Despacho e centro-oeste: deixo aqui aberto para uma mensagem sua:
Ivair: Objetivos ambiciosos estão ao alcance de quase todo mundo, conforme eu descrevi no livro intitulado “A caminho de Marte”, que publiquei este ano no Brasil pela editora Sextante. Se você ler este livro, verá que não importa muito o tamanho dos seus desafios presentes e futuros. O que importa mesmo é se você está preparado a pagar o preço para conseguir seus objetivos mais ambiciosos. Para conseguir essas coisas, é preciso um plano de longo prazo, muito foco e muita paciência. As coisas não acontecem de uma hora para outra, nem em um ano ou talvez nem em cinco. É preciso continuar trabalhando, focado em seu plano, pelo tempo que for preciso e as vezes leva-se uma década ou mais. Portanto, sugiro que leiam com cuidado o livro “A caminho de Marte”, traçam seus planos de longo prazo e mantenham o foco e a paciência, sem desistir. Não há segredo, o que é preciso é muito trabalho mesmo. Há um futuro brilhante à sua frente, mas você terá de conquista-lo!
Lembrem-se também que o período de vida da gente entre os 10 e os 25 anos são determinantes. O que a gente aprende e faz (ou deixa de fazer) nesses 15 anos vai determinar como viveremos os próximos 50 anos de nossas vidas. Por isso, aproveitem bem este tempo e se prepararem para o futuro.

 

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